Mentora e consultora em desenvolvimento e liderança feminina, Daniela Bertoldo explica algumas estratégias que podem ser implementadas por profissionais e instituições para combater o fenômeno psicológico
Fenômeno psicológico em que indivíduos duvidam de suas realizações e têm um medo persistente de serem expostos como “fraudes”, mesmo quando há evidência externas de suas competências, a síndrome do impostor afeta grande parte da população. Estudos científicos indicam que até 70% da população mundial podem experimentar sentimentos associados à síndrome em algum momento de suas vidas. Embora a síndrome possa afetar qualquer pessoa, algumas pesquisas indicam que certos grupos demográficos podem ser mais propensos a experimentá-la, tais como: mulheres, minorias étnicas ou raciais; primeira geração de profissionais ou acadêmicos, profissionais em transição e estudantes de pós-graduação ou doutorado.
Mentora e consultora em desenvolvimento e liderança feminina e fundadora do Instituto Bert, Daniela Bertoldo, destaca como a síndrome pode afetar a carreira, as relações sociais e a saúde mental das pessoas. “Um profissional que duvida de sua competência a todo instante tende, por exemplo, a evitar novas oportunidades de emprego e reluta em aceitar projetos desafiadores. Ele pode também tornar-se perfeccionista, o que o levará a fazer horas extras desnecessárias, ao estresse e ao esgotamento”, diz. Subvalorizar-se, atribuindo seu sucesso sempre a fatores externos, como sorte, e ter dificuldade em negociar salários ou benefícios são também comportamentos que o profissional desenvolve quando está sob os efeitos da síndrome do impostor.
No que diz respeito às relações pessoais e profissionais, o indivíduo que sofre de síndrome de impostor pode apresentar: extrema dificuldade em aceitar elogios; retraimento social; convívio conflituoso, por ter sentimentos de inadequação que levam a mal-entendidos e tensões; e sobrecarga, por ter dificuldade em impor limites, aceitando mais responsabilidades do que pode lidar para provar seu valor. Por sua vez, ressalta a mentora, a síndrome do impostor e os comportamentos que acarreta podem levar o indivíduo a desenvolver problemas de sua saúde mental, tais como ansiedade, depressão, baixa autoestima, esgotamento (burnout) ou estresse.
De acordo com a consultora em desenvolvimento e liderança feminina, profissionais e líderes podem exercer importante papel no sentido de ajudar membros de sua equipe que sofrem de síndrome do impostor. Entre as estratégias que eles podem usar, a mentora ressalta: criar um ambiente seguro e de apoio; comunicar suas expectativas de maneira clara; dar feedback construtivo, focando no trabalho e não na pessoa; incentivar os indivíduos a reconhecerem suas próprias realizações, refletindo sobre suas conquistas e aprendizados; e criar um ambiente no qual se evite a comparação.
Abordar o assunto abertamente, em reuniões, workshops ou aulas também é uma ótima iniciativa, segundo Daniela. Isto porque a conscientização é um passo crucial para combater a síndrome. Do mesmo modo, estabelecer programas de mentoria; oferecer oportunidades de treinamento e desenvolvimento; e encorajar as pessoas a usarem recursos das empresas como aconselhamento. Conforme a mentora, os líderes e profissionais não podem nunca deixar de ficar atentos aos sinais emitidos pelas pessoas que podem estar lidando com a síndrome, procurando sempre serem proativos e empáticos ao abordar o assunto.
As instituições também podem combater eficazmente a síndrome do impostor, destaca a consultora em desenvolvimento e liderança feminina. Para isso precisam criar ambientes inclusivos, respeitosos e de apoio. Entre as medidas que podem adotar nesse sentido, estão: a educação e sensibilização; promoção da diversidade e da inclusão; estabelecimento de programas de mentoria; desenvolvimento de políticas de feedback construtivo; criação de espaços seguros; e adoção de programas voltados para à saúde mental.
Estabelecer práticas para reconhecer e celebrar as conquistas de todos; promover culturas que evitem a comparação e valorizem o progresso individual e as contribuições únicas; estimular o desenvolvimento contínuo; reforçar a cultura de apoio mútuo; e combater estereótipos e expectativas sociais são outras iniciativas que, se tomadas pelas instituições, podem ser de grande valia. “Ao criar ambientes que valorizam a individualidade e o bem-estar e ao combater ativamente estereótipos e expectativas limitantes, a sociedade e as instituições podem minimizar a manifestação e o impacto da síndrome do impostor”, afirma a mentora.
Sintomas, gatilhos e estratégias individuais de enfrentamento
Conforme a consultora em desenvolvimento e liderança feminina, é muito importante compreender que a síndrome do impostor não é uma doença formal ou um diagnóstico clínico, mas um conjunto de sentimentos que podem afetar a autoestima e o desempenho. Os principais sintomas da síndrome são: descrença pessoal; o medo da exposição (ser descoberto como incompetente): supercompensação (trabalhar mais duro do que o necessário para evitar se “descoberto”); minimização de realizações; e sentimentos de não pertencimento, mesmo estando em ambientes onde claramente são qualificados.
Fenômeno complexo, a síndrome do impostor apresenta diversos gatilhos e influências que contribuem para o seu desenvolvimento, como, por exemplo: ambiente familiar e criação; experiências acadêmicas e profissionais (em um ambiente de muita competitividade); mudanças e transições; expectativas socioculturais; perfeccionismo; experiências de exclusão; feedback ambíguo; e comparação social. De acordo com a mentora, entender esses gatilhos e causas é um passo fundamental para combater a síndrome. “Reconhecer que muitas dessas influências são externas e não refletem a real competência ou valor de uma pessoa podem ajudar a mitigar seus efeitos”, afirma.
Além de conscientizar-se a respeito da síndrome do impostor, compreendendo que muitas de suas causas e efeitos não condizem com a realidade, o indivíduo que experimenta os sentimentos associados ao fenômeno pode adotar diversas outras estratégias a fim de enfrentá-lo. Grande parte delas com o intuito de reforçar a autoestima e evitar a autocrítica. Assim, a consultora em desenvolvimento e liderança feminina, sugere que a pessoa que sofre com a síndrome: mantenha um diário de realizações; desenvolva um diálogo interno positivo; celebre suas conquistas; redefina o perfeccionismo; e entenda que ser competente não significa saber tudo.
Buscar apoio também é fundamental para que o indivíduo combata a síndrome do impostor. Segundo Daniela, conversar sobre sentimentos com amigos de confiança ou colegas pode ser útil, pois muitas vezes o indivíduo descobrirá que não está sozinho em suas preocupações. “Grupos de apoio ou terapia são sempre bem-vindos”, finaliza.
Daniela Bertoldo é Mentora e consultora em desenvolvimento e liderança feminina e fundadora do Instituto Bert